jueves, 27 de enero de 2011


Desde criança luto com a balança. Nunca fui uma criança obesa, mas sempre fui o que todos chamam de "cheinha". Até os seis, sete anos, era uma maravilha ser assim, porque nos anos de 1980, quando nasci, ser gordinho era sinônimo de saúde. Uma criança magra logo era tida como alguém doente, ou maltratada pelos pais. Estar gordinho era estar na moda.

Mas aí, o tempo passou, e com ele chegou a adolescência, e o que antes era saúde passou a significar doença. E das mais contagiosas, porque de uma criança saudável passei a ser vista como uma adolescente com problemas alimentares, que comia prá esquecer as brigas em casa, para camuflar a timidez, prá disfarça a ansiedade. Tudo era motivo para um julgamento. Áspero.

De tanto ouvir que estava fora do peso, que essa ou aquela roupa não fioava bem em mim por causa do meu sobrepeso, me tornei uma adolescente insegura, que preferia se esconder em moletons folgados e camisetas enorms a mostrar o que tinha de bonito. Porém, a adolescente insegura cresceu, e se tornou uma adulta ainda mais insegura, que não se escondia mais em moletons e camisetas, mas que se depreciava de uma forma muito agressiva, se destruindo de dentro para fora.

Emagrecer se tornou minha obsessão, um objetivo que eu alcancei aos 19 anos, e que me custou muito caro - os quilos a mais levaram minha saúde com eles. Hoje, quase dez anos depois, eu ainda luto com a balança. Encarei muitos altos e baixos nesse tempo todo, fui consumida muitas vezes pela obsessão em ser magra, mas depois de tanta luta resolvi aceitar o que sou: uma mulher de curvas e com conteúdo. E ossos largos também.

martes, 20 de octubre de 2009

Diferentes, porém iguais

Depois de uma semana de espera e, confesso, um certo stress, hoje finalmente saciei minha curiosidade e assisti Distrito 9. Apesar de ter lido algumas críticas sobre o filme, entrei na sala de cinema esperando ver algo que se aproximasse de uma obra clássica de ficção científica, repleta de efeitos especiais, com muitos raios, explosões e um quê de fim de mundo, propiciado por nossos "amigos" vindo do espaço, mas qual não foi minha surpresa ao perceber que a temática do filme não é exatamente essa, e sim a intolerância?

Sim, por mais incrível que possa parecer, principalmente vindo de um filme de ficção científica, o mote de Distrito 9 é a intolerância dos humanos em relação aos aliens, e a "adaptação" destes ao nosso cotidiano.

Narrado em estilo documental, o filme mescla ficção e "realidade" por meio do destino de um personagem humano que se envolve diretamente com nossos visitantes do espaço. Entretanto, não foi o estilo adotado pelos produtores que me cativou, e sim o filme em si. A dura realidade dos aliens, a forma como foram tratados desde sua chegada, alienados do contato humano e, principalmente, uma fala de um habitante local me fizeram refletir sobre como tratamos nossos semelhantes. Afinal, se fomos capazes de séculos de segregação racial apenas por diferenças de pigmentação da pele, somos plenamente capazes de uma segregação com base na diferença de DNA.

miércoles, 23 de septiembre de 2009

In english, please?


Aprender um segundo idioma nunca é fácil, independente da idade que você tenha. Mas se você declara aos quatro ventos que não suporta o que se propõe a aprender, as coisas se tornam muito mais difíceis. É como se seu cérebro criasse uma espécie de bloqueio, e mesmo ouvindo a mesma palavra mil vezes, mil vezes você a pronunciará de forma incorreta. Foi o que ouvi hoje.

Depois de anos adiando, finalmente comecei um curso de inglês. Tardiamente ou não, cá estou eu, remoendo cada detalhe da primeira, de fato, aula, ao mesmo tempo em que me lembro do sacrifício demonstrado pela garota sentada à minha frente em pronunciar corretamente a palavra "cheese".

"Cheese", "drink", "milk".. nada do que a professora dissesse ela conseguia repetir. Intencionalmente ou não, cada palavra era lida da forma como estava escrita. Dói nos ouvidos, mas depois de quinze minutos não se percebe mais. Como se o cérebro anulasse os erros e fizesse com que os ouvidos escutassem apenas aquilo que ele quer, ou julga certo, ouvir.

"I drink water". Repeat, please. Mas sem sotaque.

viernes, 28 de agosto de 2009

Precisar, nem sempre precisa


- Bom dia. Eu preciso de um táxi.
- Qual o destino?
- Lapa. Cadeirante.

20 minutos de espera...

- Bom dia senhor. Desculpe pelo atraso, não estava encontrando a rua. Vamos prá Lapa? Qual o endereço?
- Guaicurus. Você vai pela Praça Panamericana, etc, etc, segue em frente e chega rápido.
- Tudo bem.

Dentro do carro...

- Qual o caminho que vocês fizeram da última vez?
- Fomos pela Eliseu de Almeida.
- Ahh.. É que eu moro perto da Raposo, meu caminho prá Lapa é diferente, mas vamos por esse que você conhece.

Meia hora de viagem...

- A famosa Eliseu. Você quer fazer o caminho que se lembra ou prefere o meu?
- Ah, vamos pelo seu mesmo. Não me lembro do caminho todo.
- Tudo bem.

Uma hora, e muitas curvas depois...

- Qual a rua?
- Guaicurus.
- Vou ligar o pequenino aqui.
- Rua Guaicuri, certo?
- Não, Guaicurus.
- Ahh, Guaicuri. Hum, achou.

Após 200m, vire a rotunda

Após 300m, entre à direita

Após 100m, contorne a rotunda

- Cidade Universitária?
- Essa mulher está me ensinando tudo errado. Espera aí moça, vou perguntar aqui.

.....

- Pronto, terei de voltar à Marginal

Após 300m, vire à esquerda

.....

- Sua rua é aqui. E tudo isso por um nome. Esse negócio de GPS é complicado. Uma letrinha que você digite errado e ele te manda para o outro lado da cidade.
- É mesmo.

Duas horas depois, fim da viagem.

miércoles, 29 de julio de 2009

Na calçada

Em uma típica tarde de inverno ele estava ali, sentado naquela calçada. Vestia jeans, um moletom colorido e trazia em sua cabeça um gorro preto. Calçava um par de tênis, simples, e carregava consigo dois grandes sacos transparentes, onde guardava tudo o que restava de sua história - roupas coloridas.

Enquanto a chuva fina caia, aquele homem contava sua história a um passante. Morava na região da Faria Lima, mas um desentendimento com sua esposa o fez abandonar o lar. Chegara ali há poucos minutos, vindo da praça que fica há poucos metros do local onde agora estava sentado - saiu de lá porque o lugar não era muito seguro. Palavra de dois policiais que faziam a ronda quando o viram chegar.

Como alternativa, indicaram-lhe a igreja, que naquele horário tinha as portas fechadas. A próxima missa ocorreria apenas às sete horas - eram quase cinco e meia da tarde. Sem alternativa resolveu esperar. E ali ficou, até seguir seu caminho, meia hora depois.

lunes, 27 de julio de 2009

Mente em branco

Ela se senta diante do computador. A tela, branca, parece ainda maior que o normal, e o cursor, intimidador, pisca diante de seus olhos, como a intimá-la a escrever ali algo que falha a pena ser lido, que a faça pensar, sentir orgulho de si mesma.

Os minutos passam, ideias circulam em sua cabeça, feito uma revoada de pássaros ao entardecer. O entardecer que ela contempla todos os dias em busca da inspiração há muito perdida. Homens na Lua, epidemias, sinuca... Tanto a dizer, mas como dizer?

Bloquinho em mãos, talvez a saída seja abandonar um pouco o virtual e entregar-se ao analógico. Desde que aderiu à leitura virtual não sentiu mais o cheiro de um livro em suas mãos. Há meses que ela não ouve o som do folhear descompromissado das páginas de sua obra favorita. Há muito tempo, também, que ela adquiriu um péssimo hábito: abandonar a leitura de um livro antes de chegar a seu desfecho. Sinal dos tempos - tempos de pressa, mil ideias na cabeça e nenhum livro em mãos - apenas fragmentos de ideias. Como esse texto, fruto de uma súbita falta de inspiração.

Talvez seja hora da jovem que vos escreve entregar-se de vez à leitura e fazer daqueles mundos o seu mundo.

martes, 21 de julio de 2009

Say good-bye

Todos os dias, ela mantém a mesma rotina desde que entrou de férias: levanta-se, toma um banho, um parco café e parte para a Internet, até que comecem os preparativos para o almoço. Entre uma notícia e outra, as janelas de seu comunicador instantâneo começam a subir. Seus contatos começam mais um dia virtual, enquanto ela secretamente espera que aquela janela - a mesma de todos estes anos - apareça e coloque um fim em seus antigos temores.

Todos os dias ela pensa em dizer-lhe algo: perguntar como estão as férias, o que tem feito... Saber da vida, aos seus olhos, é uma forma de manter viva a chama da amizade. Pensar, ela pensa, mas raramente escreve, pois tem medo de tornar-se chata novamente, reeditando a perseguição que a marcou por todo esse tempo.

A cada dia ela imagina como teria sido a conversa caso ela tivesse dito o que pensava, o que sentia no momento. Haveria resposta? Teriamos as mesmas conversas de antes? Ah, as conversas... Há meses ela anseia por uma longa e divertida conversa... Algo tão descompromissado e ao mesmo tempo tão interessante que tire seus pés do chão e a faça rir por horas diante da tela de seu computador... Entretanto, esse dia ainda não veio, e talvez nunca virá.

Há alguns dias ela dormiu triste. Tinha, no coração apertado, a certeza de que a hora do adeus havia chegado. Assim, sem despedidas, sem abraços, sem um "até logo" ela sentiu que era hora de se despedir... Adeus.

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