Final de feriado. Um feriado longo, cansativo, recheado de livros e projetos. Uma última chance para respirar e recuperar o fôlego para uma rotina cansativa que me aguarda: repleta de provas, trabalhos e percursos de ônibus, de casa até a faculdade e da faculdade até minha casa.
Casa esta que fica em um bairro longínquo da zona sul. Próxima ao centro? Quem dera....
Todos os dias são exatas uma hora e trinta minutos dentro de um ônibus. Ônibus.. esse terreno fértil, repleto de lendas urbanas, freqüentado por tipos cruéis e mal-encarados, capazes de arrancar seu coração com a ponta de uma caneta bic caso você o olhe de relance.
Freqüentado também por mocinhas briguentas, trabalhadores estressados, cobradores assanhados e motoristas apressados, do tipo que abrem e fecham as portas quando lhes dá vontade, mesmo que seu ponto de descida já tenha passado há alguns metros.
Ônibus que passam boa parte da manhã lotados, apinhados de pessoas como eu, que tem apenas no transporte coletivo a única alternativa para se locomover entre os bairros de São Paulo.
Quando quebram obrigam a todos, patricinhas, domésticas ou executivos, a viajarem juntos, compartilhando o cheiro do perfume barato ou do último cigarro fumado no ponto próximo a sua casa. Os que reclamam são "convidados" a seguir de táxi....
Mendigos? Nunca vi em todos esses anos andando de ônibus. Também pudera. O que um mendigo faria em um ônibus? Pediria dinheiro? Isso eles já fazem nas ruas. Pediriam um prato de comida ou uma "pinga"? Perda de tempo. Afinal, ás seis da manhã todos dormem. Poucos comem.
Assaltos? Existem, assim como existem em táxis ou dentro de carros luxuosos, protegidos pela "segurança" oferecida por um insul-film ou uma blindagem.
Povão? Existe. Assim como existem pessoas em todos os meios de locomoção de massa. Massa.... Isso me faz pensar em cultura de massas. A mesma cultura de massas que molda nossa consciência e semeia conceitos semelhantes aos expostos acima.
Que faz com que uma simples viagem de ônibus seja transformada em um filme de terror, povoado por monstros que se assemelham em crueldade e repugnância aos mais terríveis vilões produzidos pela indústria do cinema. A mesma que alimenta tais estereótipos.
Se andar de ônibus é sinal de pobreza, então que os humildes me recebam de braços abertos. E que eu esteja pronta, depois destes quatro dias, para mais uma incursão ao "castelo dos horrores" - o ônibus nosso de cada dia.
Grande Rô!
E... castelo dos horrores, ótima metáfora!
O que dizer? Sintam e aproveitem a fina ironia...
Como somente as coisas são
Feitas para e pelo momento
É difícil explicar a alguém quanto isso me alegra
E quanto isso me basta
sem querer vim parar ao teu blog.. gostei de ler a tua visao descritiva sobre a tua viagem de autocarro (onibus) em sao paulo. quis apenas deixar aqui, no teu blog, o meu sentimento de prazer que me deste com um acto tão simples e profundo. continua igual. um beijinho de faro, portugal. Y-an