miércoles, 3 de octubre de 2007
Passa das seis. No meio do canteiro central de uma avenida, um pontinho surge. Um pontinho verde, frágil. É uma semente. Uma semente que germina. Trazida por pássaros ou fruto de um "lanchinho da tarde". Muitos carros passam, e com eles passam-se os dias. Um, dois, três...
A planta cresce. Cresce mas ninguém a nota. Passa despercebida em meio ao fluxo de carros e motos.E também aos pedestres apressados, que cruzam a rodovia todos os dias no mesmo ponto.
Mais carros passam, e com eles passam-se os meses. A planta, agora já uma pequena árvore, cresce frágil. Galhos secos, poucas folhas. A seus pés embalagens de suco, papéis de bala, pontas de cigarro.
Plantas fumam? Talvez não, mas se fumassem esta não precisaria de um cigarro. A fumaça espelida por carros e caminhões que cruzam a avenida já vale por mil cigarros.
Pouca chuva, pouca terra, pisões e arrancadelas em suas poucas folhas a castigam. Mesmo assim ela está ali, nem tão firme, nem tão forte. Está ali, impondo sua presença verde a todos os que passam. Mas os que passam não a notam. Apenas passam.
Não observam que suas folhas estão mais verdes. Que seus galhos estão mais grossos. Que suas primeiras flores estão a se abrir. Que um jovem casal de pássaros veio ocupar seus ramos, agora fortes, em busca de um ninho. Um ninho tranqüilo onde possam criar seus filhotes.
De repente, o céu escurece. Cai a chuva. Escondidos sobre seus galhos há um casal de namorados. A seu lado está uma senhora, cabelos brancos e olhos vivos. Tão vivos quanto a cor de seu vestido. Ali, enquanto aguardam passar a chuva, debatem sobre o achado: de onde teria surgido esta imensa árvore? quando nasceu? quem a plantou? será frutífera?
Muitas perguntas rápidas, tão rápidas quanto a chuva. Com o temporal se vão as dúvidas. E a árvore permanece ali, invisível aos olhos dos passantes.
Carros passam, e com eles passam-se os anos.
A árvore, antes forte, agora está fraca. Suas folhas, antes abundantes, agora são poucas. Seus galhos, ainda grossos, partem-se ao menor esforço. Os pássaros, que antes enchiam de vida aquela árvore, agora mudaram de lugar. Foram em busca de árvores mais verdes, e de um local mais tranqüilo.
Passa das seis. A árvore morreu. Fulminada por um raio jaz ali, parte no canteiro, parte na rodovia. É noite quando a retiram. Amanhece. Novamente a mesma rotina: carros passam, pessoas atravessam a avenida pelo mesmo ponto. A rotina segue, e a árvore se foi. Se foi e ninguém notou. Sua falta não foi sentida nem durante a chuva que castigou a rodovia naquela tarde.
Carros vão, carros vem. E em outro ponto da mesma rodovia mais um pontinho verde surge. Uma árvore? Talvez. Mas esta, como a outra, não será notada. Sua ausência não será sentida. Apenas lamentada. Lamentada quando cair, e em sua queda interditar um trecho da estrada....
Etiquetas: cotidiano
Não sei como você consegue escrever textos assim, tão bonitos... Acredite, eu tento. Mas quem sabe depois dos meus 15 anos eu consiga também. ;D (ps: eu tenho 13 anos, pois é)
Quem sabe um dia eu passe aqui de novo para ver seus novos textos e para me atualizar um pouco nesse "mundo diferente"